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12out/082

“Affect of Place in Artistic Uses of Mobile and Social Networks”, por Tapio Makela | tradução p/ português Milena Szafir

cenas-frames da 1a montagem do 'video locative-media project'


"Oneself Cellphone: Bike C-Mapping part#01", de milena szafir @ 2007




Tecnologias de Locação:
Afeto[2] de Lugar em Usos Artísticos de Redes Sociais e Móveis
by Tapio Makela / ISEA2008

[tradução: Milena Szafir | revisão: Mariana Kadlec]


Em seu ensaio “Cinema and Embodied Affect”, Anne Rutherford se refere a noção de Foucault sobre anatomia como as 'técnicas do cadáver'. O corpo humano na mesa de dissecação está 'roubado da vida, separado de sua conexão à experiência vivida daquele corpo'. Em um cadáver, corpos estão desprovidos de vida. A partir da perspectiva de um satélite, analogamente aos caminhos que a anatomia se configura como uma experiência subjetiva – na visão de Merleau-Ponty[1] –, lugares estão sem vida.

Tomando como ponto de partida uma experiência subjetiva e uma experiência efetiva de um lugar, eu quero reverter uma perspectiva frequentemente utilizada sobre geolocation. Lugares se tornam cheios de significado através de atos/ ações de significação individual e compartilhadas, e não porque eles se apresentam como 'dado-locativo'. Como as práticas artísticas, ao se utilizarem de várias tecnologias de locatividade, promovem locais de convivência? Seria o 'efeito de lugar', tanto quanto o 'efeito tecnológico', relevante às práticas artísticas-midiáticas baseadas na locatividade?

Meu atual projeto de pesquisa – “Tecnologias de Locatividade” – parafraseia o clássico livro de Jonathan Crary (“Técnicas do observador: sobre visualidade e modernidade no século XIX”): pode-se considerar que tecnologias de locatividade e de vigilância em rede têm extendido o projeto da modernidade. O uso de tecnologias como GPS apresenta-se, de acordo a Caroline Basset, como 'remote sensing', 'algo que sugere profundas transformações no senso perceptivo humano, como parte de uma ampla série de mudanças (influenciadas tecnologicamente) que vem apresentando um impacto... no cotidiano'.

'Remote Sensing' parece sugerir que é possível estar em um lugar e experimentá-lo fora dele em um mesmo instante (ao mesmo tempo). Realmente, ao utilizarmos qualquer mídia em rede implicaria que alguém está 'remote sensing'. No entanto, o termo aponta na direção de designers e artistas desafiadores que vêm trabalhando com mídias-locativas. Os usuários estão experimentando seus territórios imediatos assim através de pequenas telas e áudio eles acessam uma camada representacional [representativa?] sobre a mesma localidade. Remoteness, portanto, acontece ao mesmo tempo tanto em GPS, WiFi ou rede de telefonia móvel – celular – quanto apresentam-se 'sem significado' [meaningless]. O que realmente importa é o que apresenta-se visível a alguém e o que segue escondido.

Nos projetos do Blast Theory – Can you see me now? (2002) and Uncle Roy All Around You (2003) – lugares são parte de um cenário de game. O uso de jogadores remotos [controlados?] e da rua cria uma tensão entre poder estar remotamente em um local e atuar nele. Assim, mesmo que as coordenadas de um GPS sejam relevantes a partir da perspectiva de um design funcional e que talvez contribua para uma localidade imaginária, estes trabalhos focam-se mais no 'afeto do social e da jogabilidade' do que no 'afeto do lugar'.

Mais do que falar sobre um sentido permanente de lugar, segundo o conceito de vizinhanca de Pierre Mayoul (ver The Practice of EverydayLife, vol.2 – Michel de Certeau), nestes projetos do Blast Theory, uma experiência temporal do pedestre torna-se momentaneamente compartilhada e em compartilhamento. Participação é a chave sem a qual estes trabalhos não são acessíveis. Em um trabalho mais recente – entitulado Rider Spoke (2007) –, Blast Theory experimentou uma participação dessincronizada, onde 'jogadores' podiam gravar e compartilhar suas impressões de 'lugares escondidos'. Sem um cenário de jogo como motivação, Rider Spoke não seria bem sucedido no agregamento social de diferentes participantes. Formado por ciclistas guiados através de fones de ouvido e de um pequeno PDA, no congestionado tráfego de Londres, transforma-se em uma sobrecarregada sensação [sensorial overload] dando uma boa lembrança de quão difícil é desenhar interfaces audiovisuais para espaços públicos.

Miwon Kwon, em seu livro Um lugar após o outro: identidade local e site-specific arte, descreve quão previamente a arte de site-specific estava atrelada às condições materiais de lugares urbanos. Mais recentemente, o local específico [site specificity] tem crescentemente se destinado a relações entre lugares, práticas e pessoas. Ela fala sobre os 'trabalhos de arte críticos', os quais têm se movido de um local ao outro, formando 'intimidades temporais'. Um papel mais responsável pelo artista é formar engajamentos de longa-data para os lugares através de 'sustaining relations' [relações de sustentabilidade/ de sustento?].

Em Urban and Social Tapestries – de Proboscis – a mídia-locativa torna-se uma ferramenta e uma plataforma de 'etnografia experimental'. Muito na tradição da comunidade artística – como a narração coletiva dos lugares – torna-se um caminho não somente de escrita ou do 'fazer-midiático' sobre este locais, mas sim de criação para uma nova maneira de sociabilidade entre os participantes, onde estes tornam-se além co-leitores, mas co-autores.

Anne Rutherford segue Crary quanto ao trabalho de Glen Mazis, compreendendo 'estética afetiva' [relacional?] como uma combinação de movimento, corporalidade-subjetiva [embodiment] e tato. Na mídia-locativa, o 'lugar afetivo' [lugar de afeto] é ao mesmo tempo construído através do imediato tanto quanto um sentido remediado de lugar. Visto frequentemente como um exercício individual, um sentido de lugar na arte de mídia-locativa pode – mesmo que tão somente por um momento transitório – ser construído e mediado socialmente.

De alguma maneira, esta construção social do lugar enudece as arquiteturas. Talvez o cadáver na mesa de dissecação urbana seja a cidade concreta por si mesma, que assim como um disco rígido é continuamente reescrito (onde memórias perdidas e representações são gradualmente apagadas por novas). Se o cinema está apto a sugerir um imaginário de cidade como um tipo de permanente nostalgia, as artes locativas apresentam-se mais como plataformas dissincronizadas naqueles que atuam conjuntamente nas práticas urbanas sociais e individuais.

A ênfase na prática coincide com o crescimento do uso do computador como mediador de redes socais [de sociabilidade]. Assim como a anatomia é incapaz de entender a corporalidade, a teoria da Interação Homem-Computador também não é capaz de descrever sozinha a variedade de compreensões das práticas em rede. Recente teorização das redes baseadas em I.H.C., por exemplo por Tiziana Terranova, tem como alternativa proliferar os sistemas tecnológicos e biológicos à esfera do social na tradição cibernética.

Se o sistema teórico posiciona os usuários como atores estruturalistas de um 'cíclico retorno' [feedback loop] nos esquemas geométricos e lógicos, o que seguiria a partir de avanços similares em consideração à mídia via geospatially? A posição do usuário é a de um ponto, e sobretudo, aquele formador de uma linha. Em trabalhos desenhados a partir do uso de GPS, como The GPS Drawing Project, em Amsterdam, mapas de Esther Polak e caminhadas litorâneas por Tery Rueb, o imaginário espacial resultante faz-nos relembrar os desenhos computadorizados da década de 60 inspirados pela cibernética. Somente desta vez – agora – o agente humano vem se tornando um ator no interior do sistema planejado. Esta posição ou espacialidade – 'pin point' – é unlivable ['desvivenciado'?]. O ponto de geolocation produz um traço, mas segue como um signo efêmero, frequentemente incapaz de compreender o afeto de sociabilidade, mobilidade e lugar dos participantes nestas experiências práticas em rede. Assim como o time code demarca filmes e vídeos, aquele ponto torna-se relevante somente tão logo o jogo ou a interação ao redor dele – as narrativas ou a mídia anexadas a ele – estão aptas a criar um lugar afetivo (lugar de afeto), ou uma situação afetiva, oscilando entre relações de sustentabilidade e intimidades temporais.


cenas-frames da 1a montagem do 'video locative-media project'
"Oneself Cellphone: Bike C-Mapping part#01", de milena szafir @ 2007
[ciclista percorre a cidade de São Paulo com câmera de vigilância e celular-triangulacao... trabalho em andamento do projeto
"CityMapping-Performance" @ 2006]


---------- Forwarded message ----------
Date: Mon, Oct 6, 2008 at 4:29 PM
To: tapio makela

"...i just have some questions about 'real meanings' [right interpretation/ translation] for well translating (interpretation in portuguese) it:

1. 'embodiement' >> i'd translated from the Merleau-Ponty concept (a subjective experience about some aspect of reality)... is it right in your txt?

2. affect >> i'd explained in the translation txt in portuguese it's relation to Spinoza's concept (to affect ~ dialogues & shared sensitive experiences through the human being - the society)... is it right in your txt?

3. about your artistic examples, beyound the idea of game, participation and functional designs interfaces, your txt is a critical vision about 'new locative media', where the actors are just a 'pin point' and don't have a really affect of sociabillity etc, isn't it?
["the places were reduced to 'pin points' (dots) and colors in the maps..." - Walter Benjamin, 1927]

Comentários (2) Trackbacks (1)
  1. Oi mi e ma super bom o blog agora dei uma olhada mais atenta, ta bem legal! vou usar mais o material.
    bjs zibel

  2. talvez uma melhor – mais certeira – traducao para “sustaing relation” seja COLABORAÇÃO em um contexto cultural como o qual o txt de Makela e outros – em rede – vem tratando:

    1. “generate funds for sustaining local operations, the Coalition engaged in a process of building relations — sustaining relations among the participating individuals and institutions. The diverse partners came together around a shared interest in community education that had not been articulated collectively before their initial meeting in March 1996. They were drawn together by similar concerns and a common network of relations. The concerns drew the participants to coordinate needs and resources. The common network of relations allowed the diverse parties to come together.”
    [at: Nocon, Cole, Vásquez, 7.01.00 - "Sustainability as Process...", acesso em 16 de outubro de 2008]

    2. “Promoting and sustaining relations among person is a central focus of innovation and entrepreneurship on the Internet today. Think of free software/open source software projects, blogs, Wikipedia, del.icio.us, MySpace, and youtube. Notwithstanding the gentle teasing of a former colonial overlord, the U.S. Constitution has probably been one of the world’s most successful pieces of social software. You would never guess that from that past decade of debate about the Commerce Clause.”
    [at: "peer production" by Douglas Galbi on June 19th 2006 to industry structure, acesso em 16 de outubro de 2008]

    3. “This book is an interdisciplinary investigation of the fortification that creativity brings to a meaningful sense of self, to sustaining relations with others, to a vigorous sorole that education can serve towards these endeavors. ”
    [at: The Dancing Self - Creativity, ... and Transformative Education", by Carol M. Press, acesso em 16 de outubro de 2008]

    4. “temporal intimacy vs. sustaining relations >> ‘online friending’ | Economies. Friending – links between profiles. Economies that evolve from that.”
    [at: blog felipe fonseca - Social futures, acesso em 16 de outubro de 2008]

    5. “Cultural differences and the long present hierarchies of the colonial world engender a generalised suspicion towards western parties on the part of the Jordanian parties. Somehow, such conflict brings with it feelings of colonisation, victimisation and inferiority especially in a country like Jordan, which shares borders with many of the politically volatile countries in the region. There is sometimes a feeling of revenge. International commercial arbitration finds itself at the very centre of conflicting understandings and historic bitterness engendered in a colonial context. This situation is compounded by the contrast between western commercial interests’ quest for certainty and predictability of outcomes and the Arabs’ focus on sustaining relations and a culture of seeking pragmatic solutions to conflict.”


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