Era Pós-Panóptica: Retóricas Líquidas em Redes Móveis [Obra de Arte ou Social Operating System?]
Era Pós-Panóptica: Retóricas Líquidas1 em Redes Móveis2 [Obra de Arte ou Social Operating System3?]
apresentação-texto sobre o vídeo-documentação 'tecnoconceitual' do work in progress MANIFESTE-SE [todo mundo artista] – mobile webtv live broadcast
1. “Líquido-Moderna é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir ... uma sociedade de 'valores voláteis', descuidada do futuro, egoísta e hedonista'. [as pessoas que circulam perto do topo da pirâmide do poder global] vêem 'as novidades como inovações, a precariedade como um valor, a instabilidade como imperativo, o hibridismo como riqueza' ... A boa notícia é que a substituição das preocupações com a eternidade pelo alvoroço da reciclagem identitária vem acompanhada de ferramentas patenteadas e prontas para uso, do tipo D.I.Y., que prometem tornar o trabalho rápido e eficiente sem a necessidade de habilidades especiais e com pouca dificuldade”, Bauman (1999-2005)
2. “Everyday life is made of a broad range of social practices... a pattern emerges that may yield some clues about the actual transformative effects of wireless communication technologies... it's clear that mobile technologies are becoming an integral part of people's everyday activities...”, Castells (+F-A, Q, S, 2007)
3. "A internet é de fato uma tecnologia da liberdade – mas pode libertar os poderosos para oprimir os desinformados, pode levar à exclusão dos desvalorizados pelos conquistadores de valor ... precisamos situar nossa ação no contexto específico de dominação e libertação em que vivemos: a sociedade de rede ... as redes da internet propiciam comunicação livre e global que se torna essencial para tudo. Mas a infra-estrutura das redes pode ter donos, o acesso a elas pode ser controlado e seu uso pode ser influenciado, se não monopolizado, por interesses comerciais, ideológicos e políticos. À medida que a internet se torna infra-estrutura onipresente de nossas vidas, a questão de quem possui e controla o acesso a ela dá lugar a uma batalha essencial pela liberdade. ... ser excluído é ser condenado à marginalidade ... essa exclusão pode se produzir por diferentes mecanismos: falta de infra-estrutura tecnológica; obtáculos econômicos ou institucionais ao aceso às redes; capacidade educacional e cultural limitada para usar a internet de maneira autônoma ... antes de começarmos a mudar a tecnologia, a reconstruir escolas, a reciclar professores, precisamos de uma nova pedagogia, baseada na interatividade, na personalização e no desenvolvimento da capacidade autônoma de aprender e pensar ... a internet tornou-se uma importante ferramenta de organização e mobilização ... despertando a consciência das pessoas com relação a modos de vida alternativos e construindo a força política para fazer isto acontecer ... parece plausivel que uma redefinição do modelo de crescimento econômico, levando a uma estrategia abrangente de desenvolvimento sustentável, poderia ser gradualmente estabelecida", Castells (2001)
Idealizado em 2005 e colocado nas ruas a partir de junho de 2006, o work in progress MANIFESTE-SE [todo mundo artista] – mobile webtv live broadcast (www.manifesto21.com.br) apresenta-se como proposição do direito à comunicação e à liberdade de expressão com transmissão ao vivo das ruas da cidade online na internet. Este trabalho faz parte do processo de vivência e criação em um contexto fluido, de fluxos, aceleração e consumo ao qual denominamos The Everydayness Manifesto (“Consumo, logo existo. Quanto valho ou é por Kilo?”), considerando a cidade como o medium inicial de participação em uma sociedade baseada em relações socias entre pessoas mediadas constantemente por imagens e sons (dados líquidos) on e off line.
Neste contexto atual em que vivemos, onde “os estudos dos efeitos passaram dos usos como funções para as funções dos usos, saltando portanto, da pergunta 'o que os mass media fazem com as pessoas?' para a pergunta 'o que as pessoas fazem com os mass media?' Assumindo que a audiência é tão ativa quanto os emissores das mensagens.” (Santaella : 2001), temos como exemplo paradigmático, a World Wide Web tornando-se um local de reconhecimento videográfico (vide o YouTube nos primeiros meses do ano de 2006 como um fenômeno do vídeo online responsável por mudanças comportamentais do ser urbano contemporâneo), instaurando novas formas de visibilidade, de poder e, desta maneira, gerando distintas subjetividades ao 'permitir' voz a todos aqueles, com um “mínimo” de infra-estrutura, conectados a este mundo da tecnologia digital (à época – agosto de 2006 –, diariamente 65 mil vídeos eram postados e 100 milhões exibidos somente no Youtube, o que representava 42,2% dos vídeos assistidos na internet). Ou seja, em nossa contemporânea virada de século, a televisão (como a conhecemos) caminha para a perda de seu posto supremo de comunicação em massa, dando lugar aos dispositivos móveis aliados ao espaço cibernético in consumo (blogs, videoblogs, MySpace e Youtube, dentre outros portais videográficos na rede) – constantemente sendo reinventado e expandido –, se tornando o "espaço público" de "mentes coletivas" por excelência em nossa sociedade, conectando indivíduos, cada qual a partir de sua auto-experiência cotidiana, onde a questão da comunicação na atual sociedade em rede móvel passa a ser aqui pensada-elaborada junto a um possível (e crescente) 'corpo-coletivo' de identidade nômade, interativa, individualista e possivelmente autocrítica, ou seja, discussões acerca de interface e linguagem: experimentação prática (além-teórica) para a compreensão de uma rede comunicacional digital, livre, pública e coletiva nesta 'Era Pós-Panóptica' de dados em constante fluxo e aceleração reinterpretando conceitos, formas disciplinares e ideológicas como questões de retóricas líquidas.